31 outubro 2008

Esperar a palavra branca

Enfurece-me mas admiro a luta e a dúvida entre o peso dos gestos ou das palavras já que dizes que os gestos são o que mais contam enquanto vejo que as palavras delicadamente te dominam e sabes que os gestos são para quem te quer enquanto que as palavras são para quem tem tempo e é esse o fascínio traiçoeiro e mesquinho do pensamento lento sempre artificialmente corrigível mas isso pouco interessa a quem tem tempo até de colocar uma vírgula que ocupa logo muito espaço embora fosse só mais uma vírgula e para mim uma vírgula a mais é muito porque o que não aumenta a luz aumenta a escuridão pois sei que o meu nome já não é o nome ao cimo da superfície para onde olhas e de imediato ridiculamente te pasmas só restando portanto não paralisar que os gestos ao meu alcance só sobrevivem cinco segundos pois as palavras para além de traiçoeiras ecoam em ti tanto tempo que já não recupero a intensidade luminosa que eu explorava e quem sobrevive não vive pelo que ainda assim decido gastar sempre os segundos a descer até ti já que vou com o balanço desta pressa toda que é boa e ainda acabo por me esquecer de te esquecer que é quando ficas tão dentro como fora das palavras e assim acabo por te comer melhor.

Rui Moutinho 2008

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