30 julho 2009

Manipulação ou MAGIA MALIGNA

Bastaram poucas horas para tornar-se inadiável regressar a este tema da MANIPULAÇÃO. Quero reiterar a PROPOSTA DE LEITURA que aqui enunciei no post anterior:
«Não me f**** o juízo» de Colin McGinn. Editorial Bizâncio. Lisboa. 2009.

Ora aqui ficam mais citações e reflexões da leitura deste livro.


Relembra o autor que quem quiser foder o juízo a alguém, tem de já ter desenvolvidas algumas competências de psicólogo. Tem de saber manipular as emoções dos outros, de tal maneira que as suas verdadeiras intenções permaneçam escondidas. É este o truque. E uma vez mais é óbvia a distância do manipulador em relação ao mero mentiroso ou aplicador de tretas.
O mentiroso hábil tem de ser capaz de apresentar uma defesa convincente daquilo que é falso, e o mesmo se passa com quem prega tretas. Mas quem fode o juízo tem de ir mais além em termos de aptidões: tem de ser hábil a manipular a psicologia da VÍTIMA. É um desafio maior e requer mais apetrechos. Requer outro tipo de inteligência, convenhamos.
O pré-requisito mínimo de quem quer ser (ou constatar se pode ser) um calibrado manipulador, é concentrar-se (dia e noite, já que o bom manipulador deve ser obsessivo) em procurar as inseguranças da vítima. O objectivo é produzir um estado de perturbação emocional na vítima.
Fazer a coisinha bem-feita, implica produzir na vítima um conjunto de crenças falsas, que levará então à perturbação emocional, que é o objectivo. Explorar as fraquezas. Por exemplo, os medos irracionais já que estes não precisam de algo convincente para surgirem, pelo que são particularmente úteis ao fode-juízos que se preze.
Querem pistas?
Inseguranças acerca da aparência física podem ser um terreno fértil. Ansiedades vagas acerca do futuro também são facilmente aproveitáveis. As fobias são as mais fáceis de todas pois são irracionais por natureza e é fácil evocá-las.
No seu livro, Colin McGinn dá um exemplo engraçado: Colin conheceu em tempos uma mulher que tinha uma grave fobia a borboletas, mesmo que estivessem mortas e fixas atrás de um vidro. Seria canja foder-lhe o juízo, sugerindo a presença de borboletas debaixo da cama. Básico!
Tudo isto é muito “engraçado” mas é preciso ter presente que o agente de que falamos e que é formidavelmente dissecado no livro aconselhado nestes dois últimos posts, é na melhor das hipóteses malicioso e pode, na pior das hipóteses, ser homicida.

O primeiro passo é ganhar a confiança da vítima antes de poder trair. Tem de a convencer que é seu amigo antes de usar a sua MAGIA MALIGNA contra si. Por outras palavras, tem de haver um período preliminar de sedução.
Foder o juízo, por conseguinte, exige algum planeamento e premeditação, bem como acuidade psicológica; não é por acaso que se fala na «arte de foder o juízo» (e na ciência também).
Quem fode o juízo explora o que já está presente na vítima: cheira-lhe a terreno fértil. Num certo sentido, portanto, toda a psicofoda é, pelo menos em parte, auto-infligida. É uma manipulação do temperamento prévio da vítima. Por muito que custe, admita-se que a psicofoda só existe porque a vítima está receptiva aos logros e jogos do manipulador.
Na obra de Colin McGinn encontramos um capítulo “delicioso” de exemplos de psicofodas célebres. Desde Otelo de Shakespeare até às mais recentes seitas religiosas. A concepção medieval do Inferno é dos exemplos mais perfeitos. Fascismo, Comunismo e no mundo de hoje os casos do Islão Radical e a Coreia do Norte, representam candidatos plausíveis à honra de serem designados mega-psico-fodistas.
Todos estes casos estão no bom caminho porque começaram bem: o acto de foder o juízo nunca se pode anunciar a si próprio como tal, tem sempre de se disfarçar de persuasão racional bem-intencionada e é imprescindível que os que estão sob o seu controlo não se apercebam da sua situação real. Evitar contacto com informação (amigos, inclusive) é quase pré-requisito para o sucesso da psicofoda.
A propósito de “evitar contacto com informação”, é óbvio que isso acontece porque o manipulador que em genérico é ALGUÉM QUE EXPLORA MEDOS E INSEGURANÇAS é por natureza alguém inseguro. Sabe que só colocando a vítima em cativeiro, conseguirá apresentar como credível este (único) mundo que quer impor.

Colin McGinn alerta de forma consistente para a durabilidade de uma boa psicofoda. A serem de qualidade, elas tornam-se consolidadas e persistentes, dado o seu absurdo inerente: uma vez estabelecidas, pode ser muito difícil desalojá-las. Quando lhes fodem o juízo durante toda a vida, dia após dia, as pessoas têm dificuldade em viver de qualquer maneira - é exemplo disso o desconforto linguístico que admito não conseguir evitar sentir ao escrever repetidamente neste e anterior post, as expressões, «psicofoda» ou «foder o juízo». Tenho algum medinho moral. Alguém me fodeu o juízo para assim pensar.

Conclusão (nada bonita): A psicofoda perfeita apresenta uma configuração em que leva a vítima a adaptar-se à psicofoda. É como se ficasse viciada nela.
Da leitura dos últimos capítulos do livro aqui apresentado, fica a ideia de que a mente pode realmente foder o juízo a si própria, e fá-lo repetida, metódica e impiedosamente. Exemplo? Os sonhos! Como dizia Goya «O sono da razão engendra monstros». E aí ninguém consegue mexer.
Fica por desvendar neste post o ex-líbris das perturbações emocionais – o amor romântico enquanto exemplo de psicofoda. Aconselho vivamente. O livro, claro está!

PS: Se alguém pedir muito (ou pouquíssimo), coloco aqui uma pequena lista de filmes, idealizados para foder o juízo. Prometido.

1 comentário:

"Picos" disse...

Pergunto agora amigo (a medo, claro...) porque estás tu tão obcecado com as "juízópsicofodas"?
Andas a treinar a temática???
Estão a praticar em ti???
Andas no praticar???
Uiiiii