08 julho 2009

Teatro de Máscaras

Traçaste um círculo defensivo à tua volta. Ainda hoje usas o cigarro com o mesmo gesto impreciso, que escondia, há um ano, uma atracção vertiginosa. Espero nunca ter denunciado o meu ar defensivo, algo que não quero saber se corresponde a um sentimento irmão do teu, feito de outros impulsos.
Não quero mentir: sempre desejei um gesto mensageiro. Como se fossemos muito mais do que simples amigos por acidente.
Ah, agora apertas-me a mão, rapidamente, quase involuntariamente. Não te parece que a nossa ternura, às vezes, é já em si um gesto brando de anunciada tristeza?
Poderá existir alguma verdade nesse teu sorriso morno? Já aprendemos o peso que têm os olhares dantes trocados, vazios de resposta. Tu sabes que eu vim, por outros caminhos, da margem queimada. E tu, com esse estilo discreto da aventura que repetidamente procuraste colocar entre parêntesis.
Apenas usámos truques para acabar com o incómodo das nossas solidões, em parte gémeas.
Tudo é aparência à partida. E tudo o que sobra da realidade é falso.


3 comentários:

"Picos" disse...

A VIDA será um palco onde rodam constantes trechos imprecisos em peças intermináveis? Ou um baile de máscaras difusas onde se escondem os medos de Amor e Ódio?
Ando tão docemente perdida, mas eu estou bem, contudo falta-me o sabor do encontrar! Sem truques …porque quem são os que sabem onde acaba a realidade para dar início à falsidade? Onde estão esses gajos???
Responde-me tu Sr. dos Pinceéis!
Beijo

RM disse...

Ilustre Picos Saranicos (não confundir com Satânicos ;))

A realidade (que nem sempre é REAL a nosso gosto) não se procura. Encontra-se. Ou não!
No entanto, a coisa compõe-se se tiveres presente que na vida, «um dia é da caça, outro é do caçador». Posto isto, senta-te. Espera!
Não. Enganei-me.
Senta-te e põe um ar de falsidade boa ;)

Beijinho

Pico, pico, saranico...
é melhor calares o bico
e não desistir à primeira
terminar a brincadeira

entremares disse...

"Tudo é aparência à partida"

É verdade, creio.
Até o espelho é uma aparência, um mero reflexo do que desejamos ver.
Rodeamo-nos de conchas, de carapaças, qual delas a mais bela.
Inventamos esconderijos, reduzimos tudo a uma caçada ... e por vezes, até pretendemos conviver pacificamente, predador e presa... como se tal fosse possível.

A vida do predador é solitária.
A da presa também.
Ambos fingem que são mais fortes do que aparentam.

Uma óptima semana para ti. Gostei muito do que li por aqui.