28 julho 2009

«Não me f**** o juízo»

Excelente prenda que recebi. Interessante livro de Colin McGinn, autor do best-seller «Como se Faz Um Filósofo».

«Não me f**** o juízo» ou «Mindfucking» no original, é uma pormenorizada crítica da manipulação mental. Recomendo para uma férias tranquilas. Que talvez o deixem de ser após a leitura desta interessante obra. Mas não se deixem manipular por esta minha primária insinuação.

No início do livro, Colin McGinn confronta-nos com a expressão «foder o juízo» e demonstra como seria errado e incompleto trocar esta denominação por outra menos polémica.
Foder o juízo (ou psicofoda como muitas vezes aparece no livro) não tem nada a ver com mentir ou vender treta.
O mentiroso acaba por vender algo que ou não existiu ou em que também ele não acredita. O manipulador fode a bom foder, mas só com a verdade: a sua verdade!
Linguisticamente próximas são também as expressões «fazer jogos mentais» e «dar a volta a». E é aqui que aparece a classificação mais “fascinante”: A Receptividade Emocional.
Manipular é explorar a receptividade emocional. Explorar tal sensibilidade para alcançar um fim particular. Dar a volta às pessoas é explorá-las contra elas próprias. Entra, portanto, na categoria de agressão e mostra-nos este livrinho, que não é para todos. A maior parte destes “jogadores” ficam-se pelo fascínio da mentira.
A mentira não consegue chegar tão “longe”: interferir no equilíbrio psicológico de uma pessoa jogando com as suas susceptibilidades emocionais, deixando-a num estado de violação mental.
Devemos assinalar, antes de mais, que «foder o juízo» não tem um significado exclusivamente negativo. Quando se diz que uma obra de arte/um filme/um livro nos «foderam o juízo», pode esconder-se com isto uma avaliação positiva: algo que mexeu muito connosco. Que nos «lixou» psicologicamente e que pode pertencer ao tipo desejável.

Depois de elucidar o teor da expressão «foder o juízo», o autor remonta à origem do conceito. Chega até Platão que preocupava-se seriamente em combater aqueles oradores da Grécia Antiga conhecidos como «sofistas». Quem estiver a ler este post fica a saber que acabei de apresentar os primeiros fode-juízos de que há registo. Estes tipos chegavam a propor, mediante um pagamento, ganhar qualquer discussão, especialmente em tribunal, por quaisquer meios de que dispusessem. Meninos!
Para os sofistas valia tudo. Batoteiros! Em vez de usarem apenas os meios de persuasão racional, recorriam a métodos de manipulação psicológica: lisonjeavam, seduziam, fodendo o juízo ao público e não tinham quaisquer escrúpulos em usar falácias e falsidades. Tinham, no entanto, um ponto forte: conseguiam transformar quem os escutava em novos fode-juízos.
A essência do jogo dos sofistas é a essência do manipulador (repito: NÃO É PARA QUALQUER UM): Persuadir, não apelando às faculdades racionais mas recorrendo à emoção.
Uma pessoa pode ficar ressentida ao ser persuadida de algo através de meios racionais, mas não pode num caso desses protestar legitimamente que lhe foderam o juízo. Na verdade, os sofistas davam a entender que usavam a persuasão racional mas davam apenas a volta às pessoas e fodiam-lhes o juízo.

Quando se dá mesmo a volta a uma pessoa, isso é uma mudança radical. Uma manipulação que se preze, não representa a simples substituição casual de uma crença por outra, mas sim uma mudança sísmica na concepção do mundo. É uma revolução na «consciência» do outro e não meramente em crenças. Todo um novo mundo se abre…

Esperando que esta breve abordagem sirva para despertar o interesse em aprofundar a psicofoda na obra de Colin McGinn, fica o aviso que o acto de foder o juízo não é um episódio passageiro. Quase sempre ficam resíduos na mente, que crescem e se transformam, germinando para o mundo. Um juízo bem fodido, é-o para toda a vidinha.

1 comentário:

"Picos" disse...

LOL!!!!
Olá meu amigo!!!
Pois olha, eu cá conheço uns quantos sofistas ou fode juízos, igual, e aprendi muito com um deles que além de exercitar o corpo exercitava a mente de quem amava profundamente...coisas!
Adorei este Post, quanto a ler o livro, será difícil, pois não quero foder o meu próprio juízo, que já não é por si só grande espingarda! LOL
Beijos saudosos.